
A ansiedade de nossos filhos adolescentes no mundo contemporâneo vem tomando lamentavelmente cada vez mais ares de naturalidade que acompanha, indubitavelmente, o ritmo frenético da vida atual de nossa sociedade e, por conseguinte, da família, que necessita como núcleo social de base trabalhar para viver e se realizar.
Este cenário de saúde mental ocorre diante dos desafios das famílias que precisam desempenhar papéis diversos, como tão bem ilustra o filósofo e escritor coreano de a Sociedade do Cansaço, Byung-Chu Han, que atribui ao estágio da sociedade ocidental atual este vício – “Estamos diante de uma sociedade do desempenho, das entregas e das altas expectativas sobre as pessoas e resultados que nos levam à exaustão”. A família, portanto, reproduz sem perceber, e de forma automática, todo este sistema como normalidade contemporânea, que constitui na verdade um grande vício e toxicidade, com reflexos imprevisíveis aos nossos olhos como psicólogos, psiquiatras, pais e educadores.
Segundo ele, estamos diante de uma exigência descomunal em termos de energia e disposição para cumprir desempenhos e metas jamais vistas, seguidas de expectativas que levam todos às doenças de ansiedade e de outras descritas nos compêndios psiquiátricos, não menos graves. A vida cotidiana, cuja família é esta célula reprodutiva, avança no modelo de um estilo marcadamente competitivo e de comparação como premissas do existir, que recaem diretamente sobre o comportamento humano.
Tem sido cada vez mais comum nas famílias brasileiras, especialmente entre jovens adolescentes, muitas vezes também crianças, observar as chamadas crises de ansiedade que acabam sendo acompanhadas do uso de fármacos para reduzirem e darem conta desta disfuncionalidade, coisa que acontece não raro e sem freios nos diagnósticos e prognósticos que são relatados em revistas e redes sociais por especialistas.
Os mais comuns de uso tem sido os antidepressivos e os ansiolíticos que regulam os níveis do neurotransmissor serotonina, responsável pela regulação de funções como o humor, bem-estar, sono, apetite e concentração. Os mais comuns o Fluoxetina, Paroxetina, Sertralina, Venlafaxina, Citalopram, e os estimulantes metilfenidato (conhecido como Ritalina e Concerta), amplamente utilizado no tratamento de TDAH para melhorar a atenção e a concentração, e reduzem a impulsividade e a hiperatividade; Lisdexanfetamina (conhecido como Venvanse); o Bupropiona (conhecido como Welbutrin), ou Zyban e o Clonidina que são usados também como antidepressivos.
À rigor, de nossa parte, o problema se situa em muitas recomendações que são desnecessárias e recai na pragmática revisão do estilo de vida das famílias, de suas crianças e adolescentes. Vê-se que o uso demasiado de horas à frente dos computadores, celulares e tablets e a sua inserção por um longo tempo nas redes sociais e games são a raiz do problema associado ao modo de educação adotado e estimulado pelos pais, onde a vida no mundo externo, que deveria ser intensamente curtida, natural e absolutamente mais saudável, é preterida ou minimizada. Há uma dificuldade de se resgatar o convívio social, incluindo-se o brincar, o toque e as rodas de conversas.
De um modo simplificado, podemos dizer que a ansiedade implica entre outras coisas, viver intensamente a expectativa do próximo momento, o do futuro, sem olhar ou viver prazerosamente o presente, associado a ela a cobrança intensa que se faz de si mesmo em relação a atender as mesmas expectativas. Ela reflete a personalidade que se revela no seu modo de estruturação na família. Há, portanto, um desequilíbrio emocional nesta estruturação e da identidade.
Percebemos que este ambiente ideal, ou que deveria ser mais equilibrado, está ausente do repertório de comportamento geral nestes mesmos jovens, que acabam por desencadear quadros de isolamento social, depressão, alta ansiedade, obesidade e estresse, entre outros. Os pais, por sua vez, são cúmplices e reforçam o estilo indesejável, ao qual reflete e repete nas suas famílias o estilo padronizado em que o monitoramento destes comportamentos também não acontecem na medida que deveria. Logo, temos um grande problema na esfera do desenvolvimento a médio e longo prazo, que afeta áreas como a cognição, a vida afetiva e social dos vínculos que são sabidamente imprescindíveis.
Portanto, aos papais, educadores, psicólogos e demais profissionais da saúde mental, temos o papel de ajudar nossas crianças e adolescentes a refletirem, através de uma metodologia pedagógica e clinica adequada (de caráter sócio emocional), a busca estimulada de um repertório equilibrado e mais sadio nestes novos tempos, para evitarmos a adesão “natural” a comportamentos tóxicos que prejudiquem a sua própria saúde mental, e que poderão se tornar irreversíveis no futuro.
Neste sentido, os números produzidos por entidades, institutos renomados, universidades e centros de pesquisa não só do Brasil, mas dos EUA, Canadá e Europa atestam para um quadro preocupante há tempos, chegando em alguns países em desenvolvimento mais pobres a números ainda mais comprometedores.
Finalizando sobre nossos adolescentes, cuja passagem de fase é tão fundamental e determinante para a fase adulta, o poder de ampliação da sua convivência com ambientes diversificados, ricos em estímulos; a mudança corporal, o seu nível de autoexigência, a sua insegurança e as suas necessidades afetivas que se apresentam no desenvolvimento desencadeiam inúmeras questões de ordem psicoemocional que na maioria das vezes os pais não conseguem lidar, ou não percebem a necessidade.
Este raciocínio indica que a necessidade clínica que observamos de nossos jovens pacientes, adolescentes, residem no campo de conflitos peculiares e distintos de outras fases do desenvolvimento humano, que impactam e refletem na formação da própria identidade e da auto estima, para se conduzirem rumo ao futuro. Para eles é necessário que haja o suporte sadio, oportuno, assertivo e afetivo por parte dos que os rodeiam.
Por isso, qualquer tratamento psicoterápico nos consultórios, o apoio irrestrito e da parceria dos pais é relevante. Tendo alinhado as expectativas que se pretende durante o processo de atendimento do adolescente, a sua duração pode ser de semanas ou meses, sendo imprescindível esta consideração para o quadro de saúde mental deles, que pode se agravar, gerando, portanto, outros problemas associados de mesma ordem ou de outra.
“Jovens almas, em busca de si, navegam em mares de incertezas, onde a saúde mental é o farol que os guia”.
Autor desconhecido
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